Sono infantil: saiba por que a rotina é tão importante
Manter horários irregulares para colocar seu filho na cama para dormir pode afetar o relógio biológico da criança, assim como o funcionamento do seu corpo. É o que mostra estudo britânico publicado, em 2013, na revista Pediatrics que envolveu 10 mil crianças, entre três, cinco e sete anos de idade. De acordo com a pesquisa, as mudanças apareceram mais rapidamente no humor e no apetite, mas não param por aí. As notas da escola também baixaram e o comportamento agressivo e ansioso no trato com o coleguinha são também consequências do mau hábito.
“Ter horários irregulares para dormir pode desencadear uma cascata de malefícios para a saúde, afetando o relógio biológico. Para as crianças em tenra idade, os poucos anos que ela tem representam a experiência de sua vida toda e a falta de rotina já pode causar grandes prejuízos. Em longo prazo, as crianças sem rotina de sono podem perder a capacidade de resolver problemas do cotidiano, como brigas na escola, além disso, há mais chances delas desenvolverem ansiedade e hiperatividade”, avalia a médica Dra. Michelle Martins Davlonta.
Segundo ela, é importante que os pais façam uma higiene do sono, que inclui ajustar a hora de ir para a cama, que deve ser sempre a mesma, diminuir o uso de telas, como tablets, smartphones e televisores, criar rotinas consistentes duas horas antes de deitar. “Para proporcionar uma qualidade de sono aos pequenos podemos criar algumas estratégias como baixar a intensidade da luz, dar um banho morno (podem ainda usar um chá de camomila ou melissa nesse bainho), ler ou contar uma historia com baixo tom de voz. Um bom sono se reflete na qualidade de vida, reparação do sistema imunológico, do sistema nervoso, nutrindo nossas crianças e afastando-as de doenças. Por isso ouvimos que crianças saudáveis acordam cedo e felizes. Dessa forma, percebemos que o sono está completamente atrelado a nossos hábitos alimentares e ao ambiente que nos permeia”, observa a especialista.
De acordo com Michelle, dormir cedo é importante porque, quando escurece, o organismo produz a melatonina e o hormônio do crescimento (GH). “A melatonina é o agente mais anti-inflamatório do nosso organismo e combate os radicais livres. À 1h30 da manhã temos o pico da produção desse hormônio. Sem ele, a criança pode sofrer um déficit no crescimento. Para essa produção ocorrer apropriadamente é necessário que o quarto esteja escuro, sem nenhum fiozinho de luz. Isso mesmo, para que o organismo atinja sono profundo. Nessa fase é que os danos externos e internos são reparados”, comenta.
Ela orienta os pais que procurem oferecer aos pequenos refeições mais leves à noite, para facilitar a digestão e o sono da criança. “O horário da vesícula e do fígado termina às 3h da manhã e eles devem estar descansando nesse momento. E o que isso importa? O que tem haver com a alimentação? A sobrecarga do jantar vem nesse horário. Assim sendo, devemos oferecer uma alimentação leve à noite, evitar dar alimentos sólidos e principalmente o açúcar (pão branco, biscoitos, massas, entre outros). Esse tipo de alimentação pode bloquear a produção de melatonina, que se inicia às 20h. O estômago já está dormindo nesse horário para despertar às 7h da manhã. Perfeito, não é? Como já dizia a vovó: ‘Dormir com as galinhas e acordar com os galos!’. Ao estímulo luminoso, a produção de cortisol aumenta, sinalizando para o corpo: acorde!”, explica.
Durante o almoço, a médica indica a ingestão de proteínas e gorduras, que melhoram a síntese dos neurotransmissores (dopamina, serotonina, endorfina dando sensação de felicidade), que ocorre no período da tarde. “Principalmente para que o fígado possa repousar no seu horário de pico. Isso funciona de igual forma para os papais. Após às 15h da tarde, o ideal é que os pais ofereçam aos filhos carboidratos complexos (grãos integrais) e alimentos doces (frutas e legumes) e evitar alimentos processados. Também é necessário que as refeições ocorram em horários adequados para que sejam melhor aproveitadas e otimizem as funções do corpinho das crianças. Além disso, não desarmonizar esses ciclos tão importantes. É de primordial importância que os pais aprendam sobre as rotinas adequadas, para que não sofram, nem tão pouco os pequeninos, com os problemas gerados por hábitos incorretos de sono”, destaca.
Michelle ressalta ainda em relação à medicina tradicional chinesa, a antroposofia, a homeopatia, a medicina ayurvédica, as quais são ciências que passam uma compreensão mais integrada do ser humano, proporcionando o entendimento dos ciclos biológicos. “São conhecimentos que visam à saúde, respeitando os horários de funcionamento de cada órgão do nosso corpo. Existem técnicas de tratamento baseadas nessas ciências que viabilizam uma harmonização desses ritmos, como a auriculoterapia, indicação de óleos e chás dentro da fitoterapia. Considero que toda a alimentação é uma arte e não um esquema. Toda criança é diferente. As indicações de tratamento devem ser singularizadas. Numa observação que respeita o desenvolvimento do ser humano em seu aspecto físico-biológico, anímico e espiritual”, finaliza.
Michelle Martins Davlonta é médica, clinica geral, formada em 2008 pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Especialização em Acupuntura pelo Centro de Estudos de Acupuntura do Paraná (CESAC-PR). Pós-graduação em Cuidados da Dor pelo Hospital Sírio Libanês (SP), especialização em Fitoterapia. Ela trabalha com medicina integrativa, dor crônica e dietoterapia.
Roda de Conversa
No próximo dia 14 de março, Michelle participa da Roda de Conversa sobre cuidados com a alimentação no Espaço Jasmim- Manga, em Curitiba, às 19h. As inscrições podem ser feitas pelo email: espacojasmimanga@gmail.com ou pelos números: 41 99694-7426 e 41 98809-9523. Participe!